Friday, July 10, 2009

A REESTRUTURAÇÃO DA GNR E OS APITOS






No início de Janeiro de 2009, mercê da extinção da Brigada Fiscal, fui colocado num posto territorial sem ter tido qualquer formação ou instrução para desempenhar esta nova exigente tarefa. Pareceu-me coisa estranha quando todo o país está envolvido numa revolução formativa (tipo varinha mágica) que as “Novas Oportunidades” são o exemplo paradigmático.


Cada situação que surgia era uma novidade, havia, há, procedimentos adequados a tomar, há expediente a elaborar para enviar, por exemplo, a tribunal, e, fundamentalmente, é necessário dar uma resposta pronta aos cidadãos e com o mínimo de profissionalismo. Não era pois fácil.

Andávamos para ali atarantados há três ou quatro meses, a aprender por tentativa e erro – o que é lamentável numa polícia do século XXI – e “injuriando” os brilhantes comandantes que não nos tinham dado qualquer tipo de instrução durante todos aqueles meses.
Certamente a “coisa” soube-se e, o excelentíssimo capitão comandante do Destacamento Territorial X, reuniu todos os guardas vindos da extinta Brigada Fiscal para terem uma manhã de instrução na sede do destacamento, E, sublinhe-se, "dada por ele próprio".

Lá fomos, motivados, finalmente iríamos ter umas “luzes” sobre o serviço que andávamos há cerca de quatro meses a desempenhar às "apalpadelas". Estaríamos para aí no fim de Abril e a instrução iria ser semanal. Uma manhã todas as semanas.
Feitas as apresentações, e depois de uma “queixa” nossa sobre nos sentirmos stressados e sem confiança para desempenharmos um serviço que desconhecíamos por completo. O sr. capitão logo nos confortou dizendo para não nos preocuparmos com essa insegurança, pois os civis o que viam era um militar fardado, como os outros, não sabendo eles que esse militar não percebia nada do serviço que estava a desempenhar. Devíamos pois mostrar segurança e autoridade que tudo correria bem. O que quer dizer, mesmo que fizessemos "porcaria" não haveri agrande mal nisso. o Essencial era manter sempre a compustura militar.

Depois começou a instrução propriamente dita. O sr. capitão começou por nos informar como nos devíamos apresentar a ele quando rondasse os postos. “ Eu sei que vocês lá na fiscal não estavam muito habituados às apresentações, e tenho notado que alguns se não me apresentam da maneira regulamentar. É muito simples. Cobrem a cabeça com o barrete, se o não tiverem, colocam-se em sentido, fazem continência e pedem licença para se apresentar, depois do meu assentimento, dizem o vosso nome e o serviço que no momento estão a desempenhar. É simples!”

E a instrução continuou:
“ Eu sei que vocês, lá na Fiscal, não usavam botas de cavalaria. Eu penso que esteticamente um guarda fica melhor de botas de cavalaria, mas vocês é que sabem… quem não quiser não compra. Podem usar as outras botas, têm é que andar sempre com elásticos nas calças. Isso eu exijo.

E continuou a instrução:

“Há um aspecto que vocês tem que ter muita atenção quando estão de atendimento ao Público: os apitos!” Eu sei que lá na Brigada Fiscal vocês não tinham apitos, mas aqui tem de apitar. Para mim são dois apitos, para o comandante da unidade são três apitadelas…”

E lá continuou o sr. capitão a ensinar-nos o numero de apitadelas que deveríamos dar consoante a patente ou cargo do visitante ao posto.

E com esta matéria dos apitos, realmente muito útil para o serviço policial a desempenhar nos postos territoriais, terminou a instrução dessa manhã.

Estávamos em finais de Abril e, até à data, 9 Julho, não houve qualquer outra instrução.

E ESTA, HEM!?

Thursday, July 09, 2009

A REESTRUTURAÇÃO DA GNR E O DESPREZO DOS MILITARES PELA SOCIEDADE CIVIL



Quando me aproximo do fim da carreira (já passaria as tardes a comer caracóis e a beber cerveja se o nosso protector e ideólogo Eng. Sócrates não tivesse mudado as regras a meio do jogo) a reestruturação da Guarda veio trazer-me um período de grande desassossego - diria mesmo aflição, se os camaradas do posto territorial para onde me enviaram não fossem compreensivos e bons didactas e os portugueses não estivessem já habituados a ser pacientes com os maus serviços prestados pelo Estado.
Da inutilidade da Brigada Fiscal, sentenciaram mentes iluminadas, a começar pelo forte grupo de pressão de oficiais de alta patente (A GNR nunca soube o que fazer com a Guarda Fiscal/Brigada Fiscal) denominados de “castelhanos”, pois nada mais fazem que glorificar e copiar a estrutura orgânica da Guardia Civil, que sempre foi um ramo do exército espanhol, e não uma força de segurança como a GNR era, até há bem pouco; a acabar no dr. António Costa, ex-ministro da Administração Interna, que “partindo a loiça toda” com uma reestruturação atabalhoada e mal pensada, se pôs a andar para a Câmara de Lisboa deixando os “cacos” todos para o ministro Rui Pereira, polícias e guardas, apanharem.
No início da década de 90 do século passado, também outras mentes iluminadas e isentas tinham sentenciado o fim da Guarda Fiscal, a começar pelo honesto secretário de estado das finanças, Oliveira e Costa, passando pela sempre mesma trupe de oficiais da Guarda/Exército que “apunhalaram” o último comandante geral da Guarda Fiscal, general Hugo dos Santos (um capitão de Abril) a acabar no insuspeito dr. Dias Loureiro, então ministro da Administração Interna.
Os governantes que mantiveram a Guarda Fiscal durante mais de um século foram, claro está, obtusos e incompetentes.
Mas, parafraseando o meu ex-comandante do Destacamento Fiscal X, capitão "Abelha", "Caralho! Acabou, acabou, foda-se!"E, de um dia para o outro, lá fui recambiado para um Posto Territorial. Como andei a vida toda a fazer noitadas, patrulhas e sentinelas (ainda sou do tempo dos turnos de 4 horas de serviço, 8 de folga), não estranhei muito a escala do territorial, embora, sejamos honestos, na actual conjuntura social e laboral trabalhar sete dias seguidos para descansar ao oitavo, é OBRA! - senão crime!
Eu até sei das similitudes que os militares, os de alta patente, claro está, encontram com a divindade superior quando se olham ao espelho... mas querer que o "pobre" patrulheiro, o "pau-para-toda-a-obra", esse ser “inferior” na hierarquia militar e mesmo na classe de praças, agora guardas, supere o Criador é exagerado. É que Deus criou o mundo em 6 dias e descansou ao sétimo.

Nós sabemos que os militares sempre se julgaram acima da dita "sociedade civil", que lhe vai pagando o ordenado. Ainda há pouco tempo, era da gíria nos quartéis da Guarda, fazer referência ao global dos não fardados como: "Esses cabrões dos civis!" ou "Os civis são todos uns filhos da puta!", não se distinguindo entre o honesto chefe de família e cidadão com o IRS em dia e o mais bárbaro assassino - "os civis são uns cabrões que de vez em quando é preciso dar umas murraças no posto para andarem com a garupa baixa".
Mas a Democracia vai contaminado e é preciso outra linguagem, outra imagem, pelo menos enquanto se mantiver o intervalo democrático. E o "cabrão do civil" transvestiu-se em " sr. cidadão". Mas, no fundo, o desprezo pela sociedade civil mantém-se, camuflado. E na camuflagem são os militares exímios camaleões. É por isso que os patrulheiros do territorial, aqueles que servem directamente o cidadão e são, no fundo, a razão de ser da Guarda são tidos como párias dentro da estrutura da Guarda. Tudo falta nos PTs, que deviam estar apetrechados para bem servir os cidadãos, desde instalações, a equipamentos, a pessoal, a horários de trabalho saudáveis ( e quando digo saudáveis é para a saúde mental e física). Mas como os PTs são para servir a sociedade civil têm, PROPOSITADAMENTE, aquele aspecto de abandono e degradação próprio das estruturas que estão vocacionadas para servir as classes mais baixas da hierarquia social. Essa degradação contrasta com os gabinetes, carros e messes dos senhores oficiais. E mesmo que alguns autarcas e a administração central edifique novas instalações, depressa a não substituição do mobiliário, a falta de pintura das paredes, dá lugar ao "pâté" necessário para tornar o espaço no ambiente degradante exigido para os locais onde circulam as pessoas de baixa condição. Quem visita, por exemplo, a messe de oficiais do quartel do Carmo, tem obrigatoriamente de fazer uma associação com o partido bolchevique da ex URSS ou com os regimes fascistas. Quem conhece os quartéis de maior dimensão da Guarda, o Carmo é exemplo paradigmático, sabe que há uma porta principal com um tapete vermelho por onde entra e circula a classe oficial dirigente (a porta que dá para o largo do Carmo), a restante “maralha” entra por uma porta lateral, a das “cavalariças”, que dá para a calçada do Carmo).

O sentimento de desprezo com que os militares continuam a devotar à actual sociedade civil democrática, que lhe retirou nos últimos décadas muito do poder político que tinham, leva a que privilegie e beneficie tudo o que não é serviço territorial/policial. Seja Unidades de Intervenção para "combater" no estrangeiro, sejam Grupos de Operações Especiais seja fanfarras e guardas de honra. Tudo o que é estritamente militar é acarinhado, tudo o que é para proteger o cidadão no quotidiano é deixado ao desleixo - os militares são para grandes causas, não para perseguir meliantes (civis) que roubam carteiras a outros civis.
É por isso que os patrulheiros do territorial tem um horário de trabalho com uma qualidade muito inferior ao restante efectivo e apesar de, na prática, serem os que morrem mais ( quer em serviço, quer por se suicidarem devido ao regime a que são sujeitos) não têm direito a qualquer subsídio suplementar, como os seus colegas " especiais". Não é por acaso que ir para o Territorial é considerado, muitas vezes, como um castigo. "Toda a gente" se tenta livrar daquela "escravidão" e para isso pululam as cunhas e empenhos, o que agrada à classe superior e que é uma característica dos regimes autoritários e... corruptos.

Bom, isto para dizer que a GNR me colocou num posto territorial, portanto para servir os cidadãos sem me ter dado o mínimo de formação para isso. E isso demonstra bem o desprezo ou desinteresse que tem por esses mesmos cidadãos. Não pode haver outra interpretação.
Perguntará o leitor menos conhecedor da questão. " Como é que não tem formação se é militar da GNR?"
Acontece que as mentes iluminadas que elaboraram a reestruturação pensaram, com o lápis debaixo da orelha, assim:
"Ora a Brigada Fiscal tem 3000 homens, a nossa costa é rochosa e não é atreita a contrabando, os nossos cidadãos tem forte consciência cívica já pagam todos os impostos, especialmente o IVA, não é preciso mais acções de fiscalização nas estradas, nos estabelecimentos e empresas. Pega-se nesses 3000 "mandriões" e colocam-se no territorial a perseguir os criminosos... Bom os criminosos excepto os que fogem ao pagamento dos impostos, porque, na verdade, esses não são bem criminosos... "
E assim foi! Lá foram para o Territorial os 3000 mandriões (piores que eles só mesmo os professores). Só que as mentes brilhantes esqueceram-se que dos 3000, 2900 eram oriundos da Guarda Fiscal, e a formação que tiveram foi sempre no âmbito fiscal: Contrabando, descaminho, controlo de passageiros (antes do SEF ) Impostos Especiais sobre Consumo, Contrafacção, Jogo Ilegal, etc. . Uma queixa de violência doméstica, um acidente de viação, ou mesmo situações de reposição da ordem pública eram, são, "chinês".
Claro que tudo se aprende, mas o mínimo que as chefias podiam ter feito, por respeito, não por nós patrulheiros que nunca o tiveram, mas pelos cidadãos que nos pagam o ordenado, era terem preparado um curso básico de instrução sobre o serviço territorial, para não andarmos por ali a "a apanhar bonés". A que se acresce a agravante de, devido à antiguidade, sermos quase sempre os comandantes de patrulha.

Não é só a imagem da Guarda que é afectada, é a nossa própria vida que é posta em perigo - há armas no territorial que não conheço o funcionamento, nunca sobre elas me foi dada instrução, mas tenho de as levar e “usar” (teoricamente) se necessário no serviço de patrulhamento - como conduz, também, a um desgaste ao nível psíquico que era evitado. Não deixa de "mexer com os nervos" estar sozinho no serviço de atendimento e não conseguir dar resposta às solicitações dos cidadãos que estou a atender.
Não é por acaso que os suicídios continuam e o serviço de psiquiatria há meses que não consegue dar resposta, i.e, não tem vagas. É o militarismo da GNR no seu melhor. Pena que os governantes da dita esquerda democrática continuem, ingenuamente, a deixar-se levar pelo canto de “sereios” dos militares saudosos do “Antigo Regime”. O novo Estatuto da Guarda aí está a prová-lo.

A REESTRUTURAÇÃO DA GNR E A FRONTEIRA MARÍTIMA




Sou Guarda de Infantaria e, portanto, de acordo com a alta classe, quase divina porque não se lhe conhecem erros, que manda em nós, não penso: obedeço e executo, apenas - como se quer do bom soldado de infantaria.
Pois é... mas o raio da Democracia Civil (esse "sapo" que o colégio de nobres militares que nos dirigem vão sendo obrigados a engolir) contamina. Por isso "desobedeço" e penso. Pouco, mas penso.
E penso que a REESTRUTURAÇÃO da GNR foi, em vernáculo "casernil", uma VERDADEIRA BADALHOQUICE! Tiveram cerca de três anos para preparar a mudança mas tudo foi feito "em cima do joelho", como sempre acontece nesta briosa Guarda e país.
Há coisas "hilariantes", coisas "anedóticas", que se não fossem de tão graves para a nossa segurança, e da Comunidade Europeia, dariam para rebentarmos de riso:
31 de Dezembro de 2008. Estou colocado no Destacamento Fiscal X, que tem por especial missão vigiar cerca de 120 quilómetros da uma nossa zona costeira. Estão nomeadas três patrulhas auto para efectuar a vigilância desde o anoitecer de 31 até à madrugada de 01 de Janeiro 2009.
Nesse dia, o comandante do Destacamento, sr. capitão "ABELHA", como é conhecido, ordenou:
"A Brigada Fiscal acaba às 24h00 e, portanto, a partir dessa hora acabam os patrulhamentos! Quem estiver no terreno, regressa. Quem estiver para sair, permanece no quartel!"
"E quem vigia a costa?", ainda ousou perguntar o sargento, meu comandante directo.
"Ó caralho, isso não interessa! Acabou, acabou, foda-se!" retorquiu o nosso brioso capitão, que gosta de empregar palavrões, certamente fazendo um esforço para tentar colocar-se ao nível da linguagem dos que pensa serem seus inferiores.
Bom, e assim continuamos por mais uns 7 ou 8 dias: dentro do quartel. Como a unidade que nos iria substituir, a Unidade de Controlo Costeiro, ainda não estava formada, como devia ( tanto mais que grande parte do nosso efectivo a iria integrar) está-se mesmo a ver que ninguém vigiava a nossa fronteira marítima nesses 120 quilómetros ( não sei se houve situações idênticas noutros locais do país).
Acontece que, certamente por "pura casualidade", na nossa área, num desses primeiros dias de Janeiro deu à costa um grande fardo de haxixe, tendo sido recolhido por um dos postos territoriais da nossa área, com honras de foto e reportagem em vários jornais.
E como hoje em dia o que conta é a imagem, mais que a competência e a responsabilidade, logo o brioso capitão que nos tinha ordenado ficarmos dentro do quartel durante uma semana, veio a correr dizer para iniciarmos de novo o patrulhamento à costa, mesmo antes da UCC estar operacional.
Mas o que é uma verdade, e vergonhosa, é que 120 quilómetros de costa estiveram desguarnecidos de vigilância durante uma semana, ficando os militares que o contribuinte paga para fazer esse serviço " a contar carneiros" dentro do quartel.
Certamente, por este exemplar comportamento, o capitão "ABELHA" foi ocupar lugar de destaque na recem criada UAF* de Lisboa,

* Ou Unidade de AFilhados como já é conhecida, pois todo o seu efectivo foi composto através de escolha. Os critérios é que nunca ninguém os soube... E que se use o critério de escolha para um ou outro lugar específico, ainda é aceitável, agora para uma UNIDADE NACIONAL INTEIRA!!!...( Foi por isso que os presuntos "pata negra" e outros esgotaram no NATAL passado).

Disse.



O REGRESSO DO SOLDADO DE INFANTARIA ( AGORA GUARDA DE INFANTARIA)



Caros camaradas,


Passados que são três anos, o Soldado de Infantaria, agora Guarda de Infantaria, REGRESSOU!

Não, não venho rico de Timor, nem mudei de viatura com os subsídios extraordinários que certos operacionais das ditas "unidades especiais"( das 9h às 17h, de segunda a sexta) - por isso são especiais - auferem.

Não, camaradas, mantive-me por cá e no serviço da "linha", como na extinta GF se designava os que faziam sentinelas e apeadas. Actualizando a linguagem à instituição será o equivalente ao patrulheiro do territorial. Continuo, pois, pobre.


Regressei, com o objectivo expresso de agradecer à classe superior que nos dirige, bem como ao sr. ministro da Administração Interna, o terem aceite a minha proposta, aqui expressa no primeiro post, de acabar com a designação/posto "soldado", própria das Forças Armadas, e substituí-la por "guarda", mais adequada à função policial da nossa instituição. E como a mudança não me trouxe qualquer regalia no vencimento, seria justo pagarem-me "direitos de autor" pela minha ideia agora transposta em Lei.


Somos um país de mudanças lentas e, portanto, não me sinto ofendido por não terem ido um pouco mais longe e aceite uma minha outra sugestão: acabar com as "Armas": Infantaria, Cavalaria, etc.., que obviamente são ridículas para a nossa estrutura de Força de Segurança.

Acabarão, certamente, mas só daqui a alguns anos.

Esperemos que em tempo inferior ao que a Igreja levou a admitir que, de facto, o a Terra gira em volta do Sol.

Friday, April 21, 2006

Tiro de morte: legalizar ou não, eis a questão?




Muito se tem falado sobre o uso de armas de fogo por parte dos agentes policiais. Ultimamente, parece que foram tomadas medidas para “facilitar” o uso deste meio por parte das polícias, visto que por legislação anterior ele estava bastante condicionado.
A legislação foi aplaudida por todos e deveu-se, em parte, a um crescente número de polícias mortos.
Eu não concordo com essa “liberalização” do tiro. Penso que a legislação anterior era um sinal de que as polícias não podem disparar por “dá cá aquela palha”. Era por as polícias portuguesas matarem de mais, herança do Estado Novo, penso, que essas restrições tiveram de ser impostas e bem.
Como não há pena de morte no país e na Europa, ninguém tem legitimidade para matar, salvo em casos extremos para salvar a sua vida ou a de outrem.
Eu conheço um caso de um cidadão que foi morto por um agente de uma força de segurança de um modo estúpido e sem razão para tal. Foi apenas transferido. E quantos não houve assim?
O que me parece que esteve na causa da generalidade dos camaradas que morreram ultimamente não foi o não poderem disparar, mas estarem numa situação de desvantagem tal, que se viram impedidos de usarem com eficácia a arma de fogo. Isso deveu-se, como os comandos reconheceram, a um policiamento feito sem os devidos meios materiais e humanos bem como a ausência de treino específico dos agentes para actuarem nesses locais. Houve também o caso da pistola que encravou…
O treino de tiro policial e as carreiras de tiro do exército
Tenho a minha pistola distribuída há cerca de cinco anos. É uma “boneca” com perto de 40 anos, penso, e não sei se dispara. Não é que eu, de quando em vez, não vá da tiro. Só que dou tiro com tudo e mais alguma coisa desde G3 às “pardaleiras” da EPG, menos com a arma que tenho distribuída.

As armas vão de uma qualquer arrecadação e são as mesmas para todos. Que sentido é que isto faz?!!! A instrução de tiro não será o momento ideal para lidarmos com a arma que temos distribuída. Vermos se funciona, se não encrava, se a mira está correcta…
Bom eu pouco percebo de métodos de treino de tiro policial, mas sei que aquilo que tenho feito na GNR é o que já fazia no exército há vinte e tal anos. Isto é: fazer pontaria a um alvo fixo. Eu penso que este tipo de tiro é mais dado à perícia do atirador numa competição de tiro desportivo, do que numa intervenção de risco numa situação real.
Que semelhança haverá entre o alvo de papel, imóvel, hirto, da carreira de tiro do Regimento da Serra da Carregueira e um homicida ou louco que dispara indiscriminadamente no meio de uma rua movimentada? Pouca, certamente.
Os comandos policiais sabem isso, por isso os polícias dos corpos especiais (GOE, R. Infantaria, Corpo de Intervenção) treinam o tiro de maneira diferente, de um modo próximo das situações de intervenção na “rua”. É por isso que os polícias desses corpos, apesar de intervenções difíceis, raramente são atingidos e os polícias de rua continuam a “cair como tordos” todos os dias
E não é por se liberalizar o tiro que vão cair menos, vai é morrer mais gente inocente.
As polícias de rua (não só os corpos especiais) precisam de formação de qualidade para uso das armas de fogo de maneira correcta, de forma a neutralizar e não a matar. É a falta de formação adequada dos polícias no uso das armas que os leva, muitas das vezes, a matar em vez de neutralizar o agressor.
E não é a disparar contra o velho alvo da Serra da Carregueira com as G3 ou as pistolas do quarteleiro que se irá inverter a situação.
Porque continua a GNR a dar tiro à, e no Exército? Há quem diga que a tropa aluga as carreiras de tiro à Guarda e que há interesses económicos por detrás. Não sei…

As “pardaleiras” da EPG
Talvez para evitar despesas, a Escola construiu uma “carreira de tiro”. Dizem os entendidos que as policias modernas usam este tipo de carreiras, onde há simuladores, se faz tiro sob alvo em movimento, etc. etc
O que eu conheço da carreira de tiro da Escola, é um pavilhão coberto onde vamos dar tiro (e perder tempo) com umas “pardaleiras” - espingardas a pressão de ar com um pequeno chumbo que os rapazes no meu tempo de moço usavam para atirar aos pardais.
Vai um jipe “carregado” de guardas sonegados ao serviço, a gastar gasóleo, para mandarmos meia dúzia de chumbos num papel minúsculo que serve de alvo.
Alguém deve ter interesse que isto se mantenha, naturalmente os vários elementos que prestam serviço em tão proveitosa carreira de tiro.
Mas é por esta e por outras que se está a liberalizar o tiro de morte e, possivelmente, a matar pessoas.




Sunday, April 16, 2006

A cor dos táxis como afirmação da portucalidade


Um dos principais problemas de Portugal é a falta de políticas consequentes e consistentes. No fundo, continua-se numa espécie de guerra civil em que o sucesso do país e dos portugueses pouca importa. O que importa é alcançar o poder, a qualquer custo, e destruir todas as políticas dos governos anteriores.
Mas a “guerra civil” não é só entre as forças políticas adversárias, ela existe dentro de cada facção política per si. Por isso não é estranho vermos o mesmo partido político ou coligação no governo a destruir o trabalho dos seus anteriores colegas de governação.
Justificação para tal? Bom, não sei, talvez, mesquinhez, autoritarismo, inveja e vingança, tudo epítetos da portucalidade.
Mas muitas das vezes, nem disso se trata, é falta de memória apenas, de história, bem como a impunidade por esta falta neuronal que por vezes nos custa milhões de euros e anos de atraso.


Os nossos táxis eram pretos com o tejadilho verde. Aqui há uns anos alguém veio dizer que aquela cor não era própria para países mediterrânicos, e como nunca queremos ser inferiores a ninguém, toca de pintar os táxis de amarelo. Quando já era raro vermos um preto e verde e dizíamos: “Olha um dos antigos! Deve ser para entrar num filme de época…” começaram a aparecer, cada vez mais, táxis pretos e verdes, sinal que a espécie não estava extinta. E cada vez se vêem mais na lusa capital e por todo o país.
Parece que agora é possível escolher os dois tipos de cor para ao táxis: amarelo ou preto e verde.
Ainda Bem! Temos de manter as nossas tradições a todo o custo! É construir e destruir a seguir para voltar a construir. Alguma virtude há-de ter este nosso processo "original", pois cá estamos há 800 anos. Eu penso que é uma herança de Penélope, mulher de Ulisses. Como dizem que este herói e marinheiro grego passou por cá...


Viva a Portucalidade!

Friday, April 14, 2006

Os Serviços Sociais da GNR e os privilégios feudais dos srs. oficiais e familiares




As casas de Veraneio
Li na revista da APG que esta Associação se indispôs contra a diferenciação de classes profissionais na atribuição das casas de veraneio dos Serviços Sociais da GNR. Parece que há casas só para os srs. oficiais (as mais bem localizadas e com melhores condições) e depois as outras, percentualmente em muito menor número, para o resto da maralha. Estas já podem cheirar a bafio, terem as paredes por pintar, não serem limpas, mobília a desfazer-se, etc., etc.. São para a "plebe", para a classe "baixa", servem perfeitamente, devem pensar os ditos srs. oficiais, último reduto do espírito feudal na Europa.
Realmente, se somos todos associados ( obrigatoriamente, diga-se), se é um serviço social, não se percebe para que há esta divisão de "castas", estes privilégios absurdos e diga-se: ofensivos.

O Encontro Nacional dos associados dos Serviços Sociais e familiares
No sentido de promover o convívio entre a "família" da Guarda, a direcção dos serviços sociais realizou um bem organizado convívio com comes e bebes, desportos radicais, jogos vários e animação, no parque de campismo da Costa da Caparica.
Foi um convívio alegre com muita criançada e "graudos" a confraternizar.Nada a opor. Não fossem os Srs. Oficiais, que, como sempre, estragaram tudo. Desta vez, caindo no ridículo.

Que andaria o sr. general Comandante Geral, e uma trupe de séquitos oficiais, a fazer uniformizados num tipo de confraternização como esta?!!! Era para os nossas esposas e filhos saberem que eles eram os chefes, que eram eles que mandavam?! Simplesmente ridículo!

O meu amigo Castanheira é praça da GNR, mas, vejam lá bem srs. oficiais, a esposa é doutorada e dá aulas numa universidade (coisa impensável e casamento não autorizado, quando os senhores dispunham desse poder). Os ditos chegaram um pouco atrasados e aos empurrões lá andaram de prato de plástico na mão de volta dos assadores. Nada a dizer, era muita gente e compreendia-se.
O meu amigo Castanheira, que já conhece a oficialada de ginjeira, já tinha reparado num conjunto de mesas separado por uma espécie de cerca onde, refastelados, os senhores oficiais e as suas mulheres (mais "finas" que as demais) e os seus filhos (mais "bonitos e engraçadinhos" que os demais) almoçavam servidos com todo o requinte, mas nada disse à esposa, claro está. Ela não gosta de se sentir superior, mas também não gosta de se sentir inferior. Os senhores oficiais dignavam-se a participar no convívio com a "maralha", mas à parte e com superioridade claro está.
No fim da refeição, a mulher do meu amigo Castanheira, a tal que é professora universitária, mas que não foi à tropa e não conhece os postos, viu estarem a servir café dentro da "cerca" dos oficiais e logo para lá se dirigiu: - Vou buscar dois cafés - disse. Passado momentos voltava de mãos a abanar e enervada. Não lhe serviam café porque era só para os senhores oficiais e familiares, que tinham de ir ao bar geral, não sei onde, mas afastado do local da refeição.

Senhores oficiais e senhor director dos S.S. da GNR, será que não têm VERGONHA! Se não sabem viver numa sociedade democrática e usarem igualitariamente uns serviços que se dizem Sociais, fiquem na sala de oficiais dos quartéis ou vão confraternizar para um restaurante, que muitos há por este país.

A Saúde com Hierarquias
Todos nós, o que já cá andamos há uns anitos, fomos ultrapassados por um sr. oficial na Reforma ou no Activo quando estamos à espera de consulta num dos centros clínicos da Guarda. Uma vez, fui a uma consulta ao Hospital Militar, o médico era um coronel, e tratava-me de "pá para aqui, pá para ali. Vais tomar isto, vais tomar aquilo, ouviste, pá?! "Senti-me como na recruta do SMO, e nunca mais lá apareci. Aliás, como tenho a possibilidade de ir a médicos fora dos centros clínicos da Guarda, sem postos nem hierarquias na saúde e onde sou tratado como qualquer outra pessoa, nunca lá vou, salvo quando sou obrigado.

Dizem que as juntas médicas, eu nunca fui a nenhuma, são uma vergonha. O infeliz doente, fardado, a responder a perguntas sobre saúde a oficiais de "cavalaria", que do assunto nada percebem. Claro, mais um "tacho".
Não diz a CRP que somos todos iguais perante a lei e com os mesmos direitos, inclusive no acesso à saúde. Então para que há postos e hierarquias na assistência à doença da GNR. Por exemplo, os cartões da ADSE e da Segurança Social têm apenas inscrito que o titular é beneficiário. Não que o titular é da classe de beneficiários "A" ," B" ou "C". Agora, que foram renovados todos os cartões da ADMG, tinha sido uma oportunidade de ouro para acabar com mais este feudalismo hierárquico na GNR.
É o Estado que financia a ADMG. Se os senhores oficiais querem ser tratados com distinção, que façam um seguro de saúde e vão para as clínicas privadas, que muita há por este país.
Disse.

Thursday, April 13, 2006

O " O ingénuo" Alberto Costa e a "ratice" da Judiciária


Tenho seguido o diferendo entre a Direcção da PJ e o ministro Alberto Costa. O Director Santos Cabral foi demitido por Alberto Costa, mas temo que qualquer dia o ministro Alberto Costa seja demitido pelo primeiro ministro.
Eu tenho bastante consideração pelo sr. Alberto Costa e desejo que ele se vá aguentando à frente da Justiça.
Pelo contrário, não tenho grande consideração pela instituição Polícia Judiciária, independentemente de quem a dirige. Embora nos possa ser útil...
Qual é, então, a diferença entre a Judiciária, Santos Cabral e Alberto Costa? No fundo, estão todos ligados ao Direito, ao cumprimento da Lei e à Justiça. Mas Costa é o "ingénuo" do Direito. Isto é, ele vê a Lei sobre o prisma constitucional pós 25 de Abril. Pela Lei ao serviço do cidadão, independentemente do seu credo, posição social ou raça. Já a Judiciária, e por simpatia os que a dirigem, são os "espertos" do direito. Quer dizer, conhecem a Lei de tal forma que sabem bem "dar-lhe a volta" para atingir os mais diversos fins, muitas vezes contra o espírito da própria lei.

O espírito dos agentes e inspectores da Judiciária é o do bem português "mula velha". Interessa parecer e não ser. Raramente os homens da judiciária, ao contrário do guarda de polícia, do patrulheiro, são apanhados em inconstitucionalidades e em abusos da autoridade. Não que não os cometam, porque para mim é evidente que os cometem, embora não tenha provas. Como também me é evidente que a Inquisição e a Pide cometeram crimes, embora continue a não ter provas. Mas, como escrevia, porque são "ratos", são "polidos", e não se deixam apanhar.
Eles servem-se da Lei e estendem-na para servirem os seus propósitos pessoais que muitas vezes se fundem com os da Instituição.
Se o patrulheiro na sua boçalidade e ingenuidade, com o sangue quente, dá um tabefe a um qualquer no meio da rua, sofrendo depois as consequências. Os "mulas velhas", com o sangue frio, metem-no num carro e levam-no para um sítio isolado e sem testemunhas e dão-lhe um tabefe ou muitos sem deixar marcas. O patrulheiro também não distingue em quem pode e não bater. Um judiciário com o mínimo de experiência fareja imediatamente quem é "desgraçado" de quem não é.
Ora, eu não tenho dúvida que a vontade da judiciária era dar umas "marretadas" em Alberto Costa, mas nunca o fará. Tentará dar-lhe o "golpe final" pela intriga e através dos poderes ocultos. Mas pode ser, e eu "rezo" por isso, que Costa se aguente e que consiga democratizar a PJ.

Esta Polícia Judiciária do Estado Novo, que ainda temos em 2006, não serve o Estado Democrático. Precisa dele para sobreviver, mas continua a miná-lo, em busca da sua origem: os plenos poderes que as ditaduras lhe conferem e já conferiram.
Reféns da utilidade, os poderes democráticos têm tido medo da Judiciária e em tudo a ela têm cedido. Costa foi um herói. Esperamos que sobreviva.

Tal como a Tríade, a GNR também era muito pouco democrática, já 25 Abril adentro. Quando esteve no MAI e criou a Inspecção Geral da Administração Interna, Costa não só impediu que os cidadãos continuassem a ser maltratados impunemente pelos polícias, como impediu que os guardas continuassem a ser maltratados impunemente pelas chefias. Isso possibilitou, em parte, uma democratização da GNR. Só que o IGAE, infelizmente, não controla a Judiciária.

A Verdade é que ninguém controla a Judiciária. Ela controla-se a ela própria. E controla as outras polícias. Tal poder angélico impede-a de ver os seus pecados. Foi deste modo que o anjo branco se tornou no escuro satanás.

Tuesday, April 11, 2006

Ser ou não Ser Soldado de Infantaria



Eu sou soldado e pertenço à arma de Infantaria. É assim que assino as coisas policiais: "fulano tal e tal, soldado de infantaria Nº..." Esta minha pertença à arma de Infantaria foi uma dávida já tardia e devo agradecê-la à GNR. Obrigado GNR!
Eu, para falar verdade, nunca tive preparação militar substancial para ter a responsabilidade de pertencer à Infantaria. Se rebentasse uma guerra pouco mais saberia que um paisano sobre as técnicas e tácticas de combate de um "infante".
Na tropa, a minha especialidade era condutor e fui formado num regimento de artilharia. Ao fim e ao cabo, a minha função era conduzir jipes e camionetas e, por vezes, um camião que rebocava um obus de 14.

Na Extinta, era soldado da Guarda Fiscal. Não era de Infantaria, nem de Cavalaria. A coisa fazia mais sentido, penso.
Um guarda da GNR, deveria ser um guarda da GNR. Chamassem-lhe: guarda de polícia, guarda de trânsito, guarda fiscal, guarda de investigação criminal, guarda de ordem pública, etc. Agora ser de infantaria e da cavalaria não faz qualquer sentido, penso. É "querer meter o Rossio na Betesga".

A GNR teve uma origem militar numa altura em que o exército assegurava a ordem pública ( mal e porcamente) e quando ninguém tinha direitos. A Coisa, felizmente, evoluiu. A coisa foi a sociedade civil.
Mas a tropa quer continuar a ter influência, e acima de tudo postos de chefia para os seus oficiais. Com o fim do Serviço Militar Obrigatório a tropa vê reduzidos os seus quadros. A PSP, finalmente, conseguiu correu com eles e com as suas prepotências castrenses e incompetências ao nível policial. Restou-lhes a GNR. Daí, e contra-corrente, a crescente militarização da GNR. Porque a GNR deve ter um efectivo que não anda longe do efectivo das forças armadas e, como tal, importa que os senhores oficiais do exército possam ocupar cargos na Guarda, embora não percebam patavina sobre a exigente função policial num estado de direito democrático.

Importa, pois, haver denominadores comuns que encubram a passagem, aberrante, do exército para uma força de segurança.. Um deles é o estatuto de "militares", que tem dado discussões infindas. Parece, agora, ser consensual que os militares da GNR são militares, mas diferentes dos militares, pois têm funções diferentes dos militares. Que é, parece claro, serem de facto polícias.
Outro denominador é o serem de infantaria e de cavalaria. Os guardas estudam o código penal, o código de trânsito, levantam autos de notícia, perseguem os maleantes, dão informação à população. Mas o que revela é que são de INFANTARIA e de CAVALARIA. E são de cavalaria e de infantaria, não porque isso tenha alguma coisa a ver com a sua formação e com o serviço que executam toda a vida, mas porque assim interessa, neste país de interesses e quintais, aos senhores oficiais do exército.
Veja-se. Até há pouco tempo a GNR era comundada por um General. Agora cada Brigada (e são seis) tem um general como comandante.

Bom. Eu não me importo nada de ser soldado de infantaria, desde que não seja chamado para a guerra.